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A Sociopoética foi criada no Brasil pelo poeta, filósofo e pesquisador em educação popular e intercultural Jacques Gauthier, na continuação das suas lutas contra o colonialismo e em eco à sua formação em Análise Institucional e Teatro do Oprimido – práticas libertárias e poéticas libertadoras.


Na terra do educador Paulo Freire, com o decorrer dos anos e em interação com as poéticas espirituais brasileiras de matrizes indígena e africana se ampliou a área de interação entre saber e sabedoria, entre ciência e espiritualidade na produção do conhecimento.

 

Apesar de ser principalmente um método de pesquisa, no sentido dado a essa palavra por Edgar Morin na sua Teoria do Pensamento Complexo - com desdobramentos em práticas de Educação e Enfermagem - logo, de não ter apego à qualquer corrente teórica que seja, observamos que a Sociopoética se dá particularmente bem com referenciais revolucionários tais como a esquizo-análise de Deleuze e Guattari, a teoria dos micro-poderes segundo Foucault, a teoria da ecologia profunda e certas abordagens de inspiração budista, ou ainda, com a teoria feminista do “Care” ou transgênero “Queer”.


A sociopoética – utilizada em muitas teses e dissertações, livros e artigos em revistas nacionais e internacionais - segue cinco orientações básicas, suas cinco estrelas multicolor, conforme explicita Gauthier In. O Oco do Vento, Curitiba: Ed. CRV, 2012:


1) A instituição do grupo-pesquisador, coletivo sensível e inteligente autor e responsável pela pesquisa, inspirado nos “Círculos de Cultura” segundo Paulo Freire: os participantes, chamados de copesquisadores, são pesquisadores e pesquisadoras de si, através da potência do grupo acolhedor das angústias, desejos e prazeres de cada um/a, sem julgamento nem preconceito.


2) Um extreme cuidado com as culturas dominadas e/ou de resistência é a segunda estrela da Sociopoética. Qual sua cor? Você decide! Culturas indígenas, afrodescendentes, culturas de mulheres, de trabalhadores do campo e da cidade, culturas de crianças, culturas de moradores de rua etc. Essas culturas, nas quais as potências do corpo desempenham um papel decisivo, devem interferir na interpretação e até na produção dos dados de pesquisa.


3) Assim, a terceira orientação da Sociopoética é a exigência de se produzir conhecimentos a partir de todas as potências do corpo, e não apenas da razão abstrata: a sensibilidade, a emoção, a intuição, a gestualidade, a imaginação, e até a razão prática da palavra certa no momento certo.


4) Daí o caminho das artes, da prática de técnicas de inspiração artística para a produção dos dados: artes plásticas, música, dança, teatro, contos e poesia são o caminho real para que se expressem esses saberes do corpo, geralmente velados, subconscientes ou inconscientes. Com dinâmicas de inspiração artística queremos que participe da pesquisa o inconsciente de cada um/a – pelo menos, aquilo que nunca seria expresso em entrevistas, por causa do autocontrole racional da fala do entrevistado por si próprio. Cada técnica de pesquisa produz certo tipo de dados, e não outro.


5) A quinta orientação é o cuidado com a posse da pesquisa, pelo próprio grupo-pesquisador e o coletivo acolhedor da mesma, e não pela academia. Esse aspecto é politica e cognitivamente da maior importância: a Sociopoética fornece dispositivos para que aqueles detentores de saberes populares se tornem filósofos, ou melhor, vivenciem um devir-filósofo através do grupo-pesquisador. Eles participam da produção de saberes científicos sem que esses saberes lhes sejam roubados pela academia.

Jacques Gauthier

CIRANDA (Gilberto Gil)

 

Vem de um lugar chamado Flores
Esta ciranda
De tantas cores
Vem nos aliviar as dores
Os maus olhados
Os dissabores

Ó, cirandeiro, cirandeiro
Que faz ciranda o tempo inteiro
Só por folia
Só por amor

[...]

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